Viver viajando surgiu como um sonho adolescente. Daquilo que me inflamava. Eu sei dos traumas e dores que procurei tratar em 6 anos de endereço móvel pelo mundo.
O que alguns chamam de fuga, eu chamo de desejo por vida.
Na minha bolha de nômades brasileiros, viver viajando não vem regado de imagens com empreendedores ao sol no seu notebook.
Na minha vida nômade, a praia é usada como isolamento, não como cenário.
Existe uma paz no silenciamento do mundo externo - das convenções, das normas, das instituições, para se aumentar o volume dos conflitos individuais movidos pelas estruturas culturais e sociais de cada lugar.
Nesse ambiente, é fácil a luz agraciar as hipocrisias que praticamos e falamos para sermos aceitos e sobreviver no sistema que nos gestou desde criança.
É fácil ter distanciamento quando não é seu. É mais fácil olhar para um problema que não contem você.
Em compensação, como estrangeiro, você custa a entender a língua, os códigos culturais, o gradiente entre o bom e o mal, o polêmico e o aceito.
É você, com o seu repertório, interpretando o outro.
É você se movendo para longe do que a convenção chamou de casa.
Não tem muito espaço de fuga.
Uma fuga não é fuga quando dura 6 anos. É uma busca.
É a busca por ver a paisagem da minha janela mudando.
Às vezes, a minha busca é a mesma que acontece:
No carro do pai que leva sua criança para passear de carro para dormir no balanço do movimento;
No parabrisa da mulher que acelera na BR101, pensando sobre as incertezas da vida, enquanto atravessa a distância entre as cidades onde as confusões vivem;
Na promessa de viagem, quando bêbados, brindam juntos um foda-se ao trabalho.
A imagem que enxergamos do hoje espera ser superada amanhã.
Essa busca nos põe em movimento.
E se você é nômade, ou não, pouco me importa.
Se mover é sua casa, nem que seja a vontade de mover os móveis de lugar, nós já temos sobre o que falar.
O que busco são novas referências para superar a forma como vivemos hoje.