Na metade de dezembro passado eu desisti de chamar alguns amigos para o meu aniversário que aconteceu no dia 18 de janeiro.
O plano parecia bonito: um chalé na Transilvânia no meio das colinas nevadas, amigos, vinho para lubrificar a desinibição e compartilhar histórias num período de espaço-tempo seguro, ao redor da chama que tosta a lenha e defuma os causos - que edificariam mais um andar em nossa confidência.
Seria uma bela festa de 30 anos.
Ela não aconteceu.
Na metade de dezembro passado eu estava passando por uma crise dentro do meu episódio depressivo.
O plano parecia se arruinar: eu alugaria um chalé, alguém perderia o vôo, outro adoeceria, eu estaria mal e sem humor para sorrir quando recebesse os parabéns. O vinho lubrificaria os pensamentos obscuros, a frio congelaria as entranhas da distribuição de água da casinha - o caos edificaria mais um andar nas memórias ruins.
Seria um pesadelo de 30 anos.
Ele não aconteceu.
O que aconteceu foi diferente.
Fiz 30 anos. Saí para caminhar sozinho pela cidade para tomar alguns cafés. Recebi dezenas de ligações, centenas de mensagens.
À noite a notificação do instagram me entregaria um convite misterioso de um match passado: vamos tomar uma cerveja no Control Club?
Fui. A conheci.
Fiz amigos aleatórios: dos que fazem planos de se ver, mas nunca se encontrarão; dos que fazem promessas ébrias para venerar o momento.
Dancei. Ouvi e contei histórias.
Paguei e ganhei drinks: era meu aniversário.
Vivi a noite até trocar de turno com a manhã.
Um dia antes da festa
A Ju me ligou, ela havia se oferecido para aparecer por aqui no último final de semana de janeiro. Combinamos os detalhes, ela, eu e a Jenni - a desconhecida que chamaria de amiga em breve.
A Ju é uma amiga que a escrita das viagens me deu.
A Ju foi uma das poucas que compartilhou comigo os dias de pior estima aos 26 anos - quando a depressão me levaria ao fim.
No dia 17 eu já estava confortável em passar o dia 18 do primeiro mês do ano sozinho, porque sabia que em breve teria companhia.
Não existem lugares que chamo de casa, mas há encontros que chamo de lar.
Lares móveis que o espaço-tempo não dão conta de dilapidar.
O último final de semana do mês infinito
O chão se resguardaria de neve, o coração se cobriria de companhia. Dia frio ou dia quente, quem aquece é nossa guarida.
Os passos despretensiosamente sincronizados, os encontros que aceitam qualquer plano atrapalhado, as conversas que desconcertam o relógio relevarão as pessoas que te querem bem.
O ralar do queijo, o separar da gema da clara e o aquecer a água podem se sincronizar sem se quer uma palavra quando existe atenção no outro.
A neve chegou com os amigos.
Bucareste se vestiu de branco para nos presentear com uma memória boa.
Memórias boas são o antídoto que busco para os dias ruins.
É o acaso, meu caro... Nós protege qdo nos permitimos distrair.
In other words, serendipty.
Feliz Cumpleaños!